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PRAIA DO FLAMENGO, 132: SONHO DA UNE, TRAÇOS DE NIEMEYER

Grande defensor da juventude e do movimento estudantil, Oscar Niemeyer deixou um legado imensurável  para as futuras gerações de brasileiros e brasileiras. No Rio de Janeiro, o encontro da UNE com o arquiteto deu nascimento à ” casa dos sonhos invencíveis”, novo prédio da entidade que contará com um museu e um memorial das lutas organizadas pelos estudantes em diversos momentos da história. 

No último dia 11 de agosto, a União Nacional dos Estudantes comemorou o seu aniversário de 75 anos com o início oficial das obras, na Praia do Flamengo 132. Os traços do projeto  foram gentilmente doados por Niemeyer, um vistoso presente também para a cidade do Rio de Janeiro e seus habitantes. 

A RETOMADA DO TERRENO E OS PRIMEIROS TRAÇOS

Um dos mais lembrados episódio do período da ditadura foi o incêndio da sede da UNE, logo no dia primeiro de abril de 1964. Nos anos seguintes, estudantes foram perseguidos, torturados, mortos, transformando-se em um dos principais alvos do regime, que queria  calar quaisquer vozes de mudança. No início dos anos 80, para concluir o serviço, os militares demoliram o prédio.

Em 1982, Niemeyer desenhou uma nova sede para a UNE, no local, acreditando no retorno da juventude para aquele espaço. Porém, a história da reocupação só aconteceria bem mais tarde.

No ano 2000, o então presidente da entidade, Wadson Ribeiro, liderava uma grande luta a favor da retomada do terreno junto ao governo do Rio de Janeiro. ‘’Marcamos uma reunião com o governador Anthony Garotinho solicitando a devolução para os estudantes. Ele nos perguntou se trazíamos um projeto. Dissemos que sim, e que, curiosamente, era do Niemeyer. Porém, o projeto feito nos anos 80 não estava mais conosco’’, contou.

No dia seguinte, os jornais cariocas indagavam o arquiteto sobre o projeto quando receberam a resposta: ‘’ Eu ainda não fui contatado, mas, se for, terei o maior prazer em refazê-lo’’. 

Nascia aí o segundo projeto desenhado pelo arquiteto para a UNE. ‘’Niemeyer foi super receptivo conosco. Pedimos desculpas por ter utilizado o nome dele para conseguir a retomada junto ao governador e ele entendeu nosso propósito. Em 2001 já exibíamos na nossa 2ª Bienal, realizada no Rio de Janeiro, a maquete com os novos traços. E o melhor: ela foi apresentada aos estudantes ao lado de seu criador’’, explicou Wadson.   

Apesar da existência do projeto, o terreno ainda não havia sido devolvido aos estudantes. Somente em 2007, com uma grande passeata realizada após a 5ª Bienal da UNE que foi possível a retomada do espaço. Portões foram derrubados e os estudantes voltaram ao seu lar histórico.

Neste mesmo ano, em meio às comemorações de 70 anos da entidade, Niemeyer voltou a presentear os estudantes. Uma versão atualizada de seu projeto foi concebida. ‘’ Sem dúvida este foi um dos momentos mais marcantes de nossas vidas. Além da simplicidade e da gentileza de ter nos cedido novamente esse projeto, Niemeyer mostrou-se um gênio. A UNE e a juventude receberam esses traços gratuitamente. Com certeza, ficará para a história dos estudantes’’, afirmou Gustavo Petta, presidente da entidade na época.

DE 2007 AOS DIAS ATUAIS

Mais tarde em 2007, ano de celebração dos 70 anos da UNE, quem assumiu o cargo no lugar de Gustavo Petta foi a gaúcha Lúcia Stumpf. Para Lúcia, um dos momentos mais marcantes de sua gestão foi justamente receber das mãos do arquiteto Oscar Niemeyer o novo projeto. “A reconstrução do prédio é uma conquista não apenas dos estudantes, mas de todo o povo brasileiro. É dever do Estado reparar os danos causados aos estudantes pelo regime militar, que incendiou e demoliu o espaço da Praia do Flamengo, 132. Os traços de Niemeyer pretendem apagar de vez os resquícios da ditadura”, lembrou.

Em 2009, no seu  51º congresso, a UNE elegeu o paulistano Augusto Chagas como novo presidente da entidade. Porém,  foi só no ano de 2010 que Augusto teve o prazer de se encontrar com o renomado arquiteto e o ex-presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva. 

Este histórico encontro se deu no ato de lançamento da pedra fundamental da nova sede da UNE, no Rio de Janeiro. O Congresso Nacional havia aprovado por unanimidade a lei indenizando a UNE pela perseguição que sofreu na ditadura. 

Augusto se lembra da disposição de Niemeyer, que havia completado 103 anos recentemente. “Oscar Niemeyer, por mais que tivesse suas dificuldades pessoais, não deixava de ir a nada relacionada à UNE”, lembrou. “Ele era uma pessoa genia,l reconhecido como maior arquiteto de todos os tempos, além de carregar condutas muito fortes”, observa Augusto.

MÃOS À OBRA 

A nova sede da UNE terá um anfiteatro, dois cinemas, um espaço multiuso, um museu, uma livraria e um café. A ideia é que o espaço seja ocupado pela classe artística e intelectual do Rio de Janeiro e do Brasil, resgatando a experiência do Centro Popular de Cultura da UNE (CPC), que nos anos 60 reuniu figuras como Vinícius de Morais, Arnaldo Jabour, Cacá Diegues, Ferreira Gullar e Carlos Lyra. 

O novo prédio da UNE terá a certificação ambiental LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), a ferramenta de maior reconhecimento mundial quanto ao grau de sustentabilidade e eficiência. A construção terá cobertura verde, bicicletário, ar condicionado com a tecnologia VRV – que possibilita economia elétrica de até 40% – sistema de água reutilizada para irrigação do jardim e do telhado verde, sistema de esgoto a vácuo reduzindo o consumo, e vidros de controle solar seletivos, temperáveis, com baixo fator solar e alta transmissão luminosa. 

‘’ Nosso gênio e amigo Oscar Niemeyer desenhou carinhosamente a nossa nova sede entendendo o seu significado para o futuro do Brasil’’, afirma o atual presidente da UNE, Daniel Iliescu.

Mariana Ortiz e Renata Bars

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